É comum que pessoas com algum tipo de deficiência sejam vistas apenas pelas dificuldades, que não só elas, mas toda a família enfrenta no dia a dia. E foi por meio da fotografia que uma moradora de Sorocaba (SP) decidiu compartilhar com o mundo todo o amor, resiliência e aprendizado passado por essas crianças “iluminadas”.
Tudo começou em 1998, quando Cinthia Pecoraro, na época veterinária, teve a primeira filha: a Júlia, que nasceu prematura e, em decorrência disso, desenvolveu paralisia cerebral, uma condição neurológica que afeta o desenvolvimento psicomotor.
Foi então que ela decidiu deixar de lado a veterinária, profissão que exerceu por 20 anos, para se dedicar aos cuidados da filha. Nesse período, ganhou um curso de fotografia da irmã e se apaixonou pelo ofício, arte que sempre esteve presente em sua vida.
“Meu pai gostava muito, tenho registro da nossa vida toda. Eu tinha tido contato, mas nunca imaginei que pudesse se tornar minha profissão. [Quando ganhei o curso] acabei me encontrando” lembra.
Mesmo diante das dificuldades e frequentes visitas à médicos e consultórios, a fotógrafa conta que o sorriso nunca deixou de estampar o rosto da filha, mostrando à família que o que realmente importava era estarem vivos e unidos.
Apesar disso, Cinthia relembra que sempre escutava comentários negativos sobre a condição de Júlia. “O que mais escutamos, de pessoas que não viveram uma situação como a nossa, era: ‘Deus não dá a cruz maior do que você pode carregar’. Minha filha não é, e nunca, foi uma ‘cruz’ (…) é meu dever cuidar dela”, desabafa a fotógrafa.
Quebrando estigmas
Para “desatar” nós do preconceito e quebrar estigmas, Cinthia decidiu compartilhar nas redes sociais muito mais do que fotos, mas histórias de cumplicidade, amor e cuidado que Júlia proporcionava à família.
Em 2017, Cinthia fez a primeira publicação do projeto: em preto e branco, a fotografia mostra uma abraço entre mãe e filha, que sorriem uma a outra.
“Sou ‘MomShine’, sou feliz! Agradeço a Deus por ter oferecido tamanha benção, simplesmente pra mim! Na maioria das vezes, nem me sinto digna de tamanho presente. E por isso nós estamos abrindo um espaço nas nossas redes sociais para mostrar muitos ‘SonShine’ como ela, que nos tornam pessoas melhores, bastando nos permitirmos. Nos acompanhem e se orgulhem deles” escreveu Cinthia.
E assim nasceu o “SonShine” – nome em alusão à “sunshine”, que em português significa “luz do sol” e que “brinca” com as palavras inglesas “son” (filho) e “shine” (ato de brilhar).
Estúdio itinerante
O projeto artistíco dà voz aos familiares de pessoas com deficência para expressarem os sentimentos de gratidão aos filhos e parentes. Os ensaios não têm custo algum.
Com seu próprio carro, Cinthia criou um estúdio itinerante. “O projeto foi muito bem aceito, fotografei muitas famílias maravilhosas, com histórias de coragem, luta, persistência, doação e acima de tudo, amor. Fui pra Rio Grande Sul , fotografar os alunos da Associação Pestalozzi de Canoas, deixei um pedaço do meu coração com aquela gente querida”, comenta.
Ao olhar para toda a trajetória do projeto, Cinthia comenta com orgulho a oportunidade de dar voz para tantas famílias.
“Dar a eles a oportunidade de vivenciar o prazer de serem fotografados sem julgamentos, sem olhares, ali éramos todos iguais como deveríamos ser sempre! Fico feliz por ter alcançado tanta gente. De ter dado a oportunidade pras pessoas mudarem o pensamento em relação às nossas famílias atípicas”.
Histórias que marcaram
Cinthia compartilhou uma das muitas histórias que ficaram marcadas em sua memória: Marie, uma menina que foi abandonada na maternidade por não ter as duas pernas. Na vida adulta, ela se formou, casou e teve duas filhas.
Um tempo depois, Marie descobriu a história de uma criança que perdeu os movimentos das pernas devido aos maus-tratos que sofria. Ela não pensou duas vezes em adotar a criança.
“Poder registrar esse amor entre as duas foi muito especial e único para mim. Acredito que para elas também. A Marie tem uma história de superação incrível” , disse Cinthia.
Sentimento de gratidão
Hoje, a filha de Cinthia tem 25 anos, e apesar de muitas coisas terem mudado ao longo desses anos, ela conta ainda há muita luta para conquistar fazer do mundo um lugar mais digno e igual para todos.
“Gostaria que todos entendessem que temos todos os mesmos direitos e deveres e que o fato de terem alguma ou muitas limitações, não os tornam invisíveis, nem que as famílias são mais tristes por conta das condições. Vivemos sim rotinas um pouco diferentes, muitas vezes precisamos de ajuda, mas seguimos como qualquer um”.
– Fonte: g1.globo.com
– Foto: Clayton Estes/Arte g1
Quer saber tudo
o que está acontecendo?
Receba todas as notícias do Portal de Notícias no seu WhatsApp.
Entre em nosso grupo e fique bem informado.
Deixe o Seu Comentário